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A Durabilidade do Jogo do Bicho no Brasil: Tradição que Resiste ao Tempo

 
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A Durabilidade do Jogo do Bicho no Brasil: Tradição que Resiste ao Tempo
de Anny David - lunes, 28 de abril de 2025, 20:52
 

O Brasil é um país onde o improviso, a criatividade e a fé na sorte se misturam de forma única. Em meio a essa mistura, um jogo atravessa décadas, governos e proibições, mantendo-se firme no imaginário popular: o Jogo do Bicho. Mesmo considerado ilegal, ele resiste — e não apenas sobrevive, mas continua ativo, relevante e profundamente enraizado na cultura brasileira.

Uma História que Começou com um Zoológico

Criado em 1892 por João Batista Viana Drummond, o barão de Drummond, o Jogo do Bicho foi originalmente uma ação promocional para atrair visitantes ao zoológico do Rio de Janeiro. A ideia era simples: cada bilhete de entrada vinha com a imagem de um animal, e ao final do dia, um animal era sorteado. Quem tivesse o animal premiado, ganhava um prêmio em dinheiro.

O sucesso foi imediato. A mecânica era fácil de entender, popular entre todas as classes sociais e logo se espalhou pelas ruas — até se tornar o que conhecemos hoje.

Cultura Popular e Cotidiano

Mais do que um jogo de azar, o Jogo do Bicho virou parte da cultura popular brasileira. Ele está nos sonhos interpretados como sinais, nas conversas de bar, nas músicas, nos filmes e até nas novelas. É comum ouvir alguém dizer “sonhei com cobra, vou jogar no grupo 9 (cabra)”, como se a sorte estivesse nas entrelinhas do subconsciente.

O termo “Deu no Poste” virou uma instituição informal: um boletim diário que anuncia os resultados dos sorteios e movimenta apostadores em todas as regiões do país.

Legalidade vs. Realidade

Oficialmente, o Jogo do Bicho é ilegal desde 1946, por ser enquadrado como contravenção penal. Mas a sua ilegalidade não impediu sua continuidade. Pelo contrário, ele se adaptou, criando um sistema paralelo com bancas fixas, sorteios regulares e até sistemas informatizados de apostas.

Polêmico, o jogo já foi alvo de inúmeras operações policiais, denúncias de ligação com o crime organizado e debates no Congresso. Ainda assim, permanece como uma prática cotidiana — tolerada e, muitas vezes, ignorada pelas autoridades locais.

 Economia Invisível

Estima-se que o Jogo do Bicho Deu no Poste movimente milhões de reais por ano em apostas. Sem regulação, todo esse dinheiro circula fora do sistema bancário oficial, o que levanta questões econômicas e sociais. Ainda assim, muitos argumentam que o jogo gera empregos, sustenta famílias e até oferece um “sistema de crédito” informal entre bancas e apostadores.

Por Que Ainda Existe?

A durabilidade do Jogo do Bicho pode ser explicada por uma combinação de fatores:

  • Facilidade de acesso: qualquer pessoa pode apostar, com valores baixos.
  • Tradição familiar: muitos aprendem a jogar com pais e avós.
  • Fé e superstição: sonhos, sinais e “intuições” movimentam as apostas.
  • Ausência de alternativas legais: a falta de opções de loteria rápida e acessível estimula a adesão.

 O Futuro do Bicho

Apesar das mudanças na sociedade e do avanço das apostas online, o Jogo do Bicho segue firme. Bancas se modernizaram, e algumas já aceitam até apostas por WhatsApp. Ainda assim, o jogo continua vivendo no limite entre o proibido e o permitido, entre a sorte e a tradição.

Talvez essa seja a sua maior força: não ser apenas um jogo, mas um símbolo cultural, que fala de fé, de cotidiano, de identidade brasileira.